Ilha do Retiro

Como não poderia ser diferente, a nossa primeira visão ao chegarmos nas proximidades do bairro foi o imenso estádio, que ocupa boa parte territorial da Ilha do Retiro. Em seguida, o que nos chamou atenção foi a beleza dos manguezais na Avenida Beira Rio. Ao mesmo tempo, o por do sol nos fascinou às margens do Rio Capibaribe. Para nos guiar nessa visita ao bairro, convidamos a responsável pela comunicação da Biblioteca Comunitária Caranguejo Tabaiares, Mayara Silva, para nos mostrar o que tem de bom nessa região, qualificada, desde 1996, como Zona Especial de Interesse Social (ZEIS).
A comunidade de Caranguejo Tabaiares distribui-se no espaço de forma complexa, pois apresenta uma arquitetura fragmentada, um tecido urbano labiríntico e o desenvolvimento territorial extremamente orgânico. É composta por uma malha urbana flexível e maleável. Ao longo do dia, as ruas, becos e ruelas se tornam a continuação das casas, criando espaço semiprivados. Enquanto as casas, através de suas portas e janelas abertas, transformam-se em espaços semipúblicos. “Os moradores costumam ficar em frente às casas para se distrair e aproveitar o entardecer. Todo mundo se conhece. O hábito de colocar as cadeiras na rua para conversar é preservado na comunidade”, explica a guia.

Com o tempo, em 2002, durante a campanha Caranguejo Limpo, uma ação coletiva da comunidade em prol da conscientização ambiental em parceria com os moradores, Djalma Santos fez um passeio tocando maracatu com alguns de seus alunos e conversou com o MC Diamante Negro, que toca rap e hip-hop, sobre a possibilidade de criarem um grupo percussivo liderado pelos dois. O trabalho para concretizar o grupo só foi possível em 2005 quando fizeram uma parceria com o Sebrae para ensinar as crianças a fabricarem seus próprios instrumentos. Em 2007, o grupo recebeu o nome de Maracatu Belas Artes. “Mais tarde, começamos a tocar outros ritmos da cultura afro e passamos a nos chamar Grupo Percussivo Consciência Negra”, disse. Com o objetivo de ensinar música e também incentivar a leitura e a busca por informações sobre suas raízes africanas, o mestre frisa: “Para participar do projeto é preciso estar matriculado na escola e com boas notas”.

Andando mais um pouco, chegamos até a Ilha do Zeca, inicialmente conhecida como Ilha de Popolônia. Trata-se de um importante espaço de lazer da comunidade Caranguejo Tabaiares e de outras localidades circunvizinhas. Religiosamente, aos domingos, acontece um campeonato de futebol com os quatro times da comunidade. Em dias de semana, as crianças utilizam a área para brincar e contemplar o verde da última Ilha do Recife que ainda não possui construções. Na região, os jovens contam com o projeto AdoleScER, organização da sociedade civil. Com atividades educativas e de formação humana, ela contribui na prevenção e redução da pobreza, violência, drogas, infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), HIV/Aids e gravidez na adolescência. A metodologia usada é a “educação entre pares” ou “de igual para igual”, o que promove o protagonismo juvenil e favorece um enorme efeito multiplicador.
A Biblioteca Comunitária Caranguejo Tabaiares foi criada no dia 11 de outubro de 2005. A iniciativa partiu de Cleonice da Silva, Reginaldo Pereira e outros moradores. Na época, eram apenas 800 livros doados pela Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco (FCAP), pela Associação Cultura Planeta, além de outras organizações como ETAPAS, Centro Josué de Castro, FASE e a Escola Maria Goretti. “Como eu nasci e me criei aqui, sempre percebi esse interesse da comunidade pela cultura. Na biblioteca, desenvolvemos o prazer de ler e de apoiar as pesquisas escolares dos estudantes”, esclarece a nossa guia. A Biblioteca funciona diariamente nos turnos da manhã (8h30 às 11h30), tarde (14h às 17h) e noite (19h às 21h).
Mesmo diante de tantas conquistas, a Biblioteca Comunitária e o Clube dos Idosos almejam mais: a construção da nova sede, que triplicará o número de atendimento na comunidade. Para que o sonho se realize, faz-se necessário a ajuda por meio de parceiros. Quem quiser colaborar, pode ligar para o telefone 3077-2535 ou 3446-3425. E é nesse clima solidário que nos despedimos de mais um bairro do Recife. Então, o nosso até logo, Ilha do Retiro.
Texto e fotos Gianfrancesco Mello
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