segunda-feira, 12 de agosto de 2013

A Biblioteca na Agenda Cultura

No mês passado, julho, nós tivemos a visita da Agenda Cultura, que quis conhecer um pouquinho das atividades e grupos do nosso bairro e nossa mediadora Mayara Silva foi quem fez o papel de guia. Conheça também o nosso bairro:

Ilha do Retiro 



O escritor recifense Josué de Castro falou certa vez que “só há um tipo de verdadeiro desenvolvimento: o desenvolvimento do homem”. Neste mês, aportamos em um bairro que mostra o esforço comunitário para tornar o dia a dia bem mais educativo, cultural e solidário. O bairro da Ilha do Retiro, de pequena dimensão territorial com 51,6 hectares, é conhecido principalmente por abrigar o Estádio Adelmar da Costa Carvalho ou, para muitos, Ilha do Retiro. Localiza-se entre os bairros da Madalena, do Prado e de Afogados, tendo formato quadrangular. Apesar do nome, como em outros bairros da capital pernambucana, já não se constitui individualmente como uma ilha. 


Como não poderia ser diferente, a nossa primeira visão ao chegarmos nas proximidades do bairro foi o imenso estádio, que ocupa boa parte territorial da Ilha do Retiro. Em seguida, o que nos chamou atenção foi a beleza dos manguezais na Avenida Beira Rio. Ao mesmo tempo, o por do sol nos fascinou às margens do Rio Capibaribe. Para nos guiar nessa visita ao bairro, convidamos a responsável pela comunicação da Biblioteca Comunitária Caranguejo Tabaiares, Mayara Silva, para nos mostrar o que tem de bom nessa região, qualificada, desde 1996, como Zona Especial de Interesse Social (ZEIS). 

A comunidade de Caranguejo Tabaiares distribui-se no espaço de forma complexa, pois apresenta uma arquitetura fragmentada, um tecido urbano labiríntico e o desenvolvimento territorial extremamente orgânico. É composta por uma malha urbana flexível e maleável. Ao longo do dia, as ruas, becos e ruelas se tornam a continuação das casas, criando espaço semiprivados. Enquanto as casas, através de suas portas e janelas abertas, transformam-se em espaços semipúblicos. “Os moradores costumam ficar em frente às casas para se distrair e aproveitar o entardecer. Todo mundo se conhece. O hábito de colocar as cadeiras na rua para conversar é preservado na comunidade”, explica a guia. 

Logo no início da nossa caminhada por entre as ruas de Caranguejo Tabaiares, Mayara nos levou até o Grupo dos Idosos Unidos Venceremos, que é coordenado por Cleonice Silva. O trabalho, que cuida das necessidades dos idosos, existe há 14 anos e possui 143 pessoas cadastradas, com 98 frequentadores assíduos. Caranguejo Tabaiares é um lugar onde todas as tribos se encontram. Além do samba de raiz, da poesia popular, do hip-hop, reggae e outros estilos, não poderia faltar a percussão. O mestre Djalma Santos chegou a Caranguejo Tabaiares ainda nos anos 1980, quando já tocava maracatu e praticava capoeira. “Quando vi a quantidade de crianças que ficavam brincando nas ruas na comunidade, percebi que muitas delas se interessavam por atividades culturais e resolvi ensinar capoeira para algumas delas, criando uma roda da prática por aqui. Foi o início de tudo. Depois de um tempo, comecei a ensinar também maracatu, mas tudo de maneira informal”, pontua o mestre. 

Com o tempo, em 2002, durante a campanha Caranguejo Limpo, uma ação coletiva da comunidade em prol da conscientização ambiental em parceria com os moradores, Djalma Santos fez um passeio tocando maracatu com alguns de seus alunos e conversou com o MC Diamante Negro, que toca rap e hip-hop, sobre a possibilidade de criarem um grupo percussivo liderado pelos dois. O trabalho para concretizar o grupo só foi possível em 2005 quando fizeram uma parceria com o Sebrae para ensinar as crianças a fabricarem seus próprios instrumentos. Em 2007, o grupo recebeu o nome de Maracatu Belas Artes. “Mais tarde, começamos a tocar outros ritmos da cultura afro e passamos a nos chamar Grupo Percussivo Consciência Negra”, disse. Com o objetivo de ensinar música e também incentivar a leitura e a busca por informações sobre suas raízes africanas, o mestre frisa: “Para participar do projeto é preciso estar matriculado na escola e com boas notas”. 

Os setores de comércio, serviço e pesca são os que predominam no local. A criação de viveiros de camarões é uma atividade bastante conhecida na região que possui 25 viveiros. No bairro, ainda se pode encontrar o Projeto Reciclados, que busca com sua iniciativa empreendedora fortalecer a comunidade e promover inclusão social por meio de negócios sustentáveis, além da cultura da reciclagem e proteção ao meio ambiente na comunidade. Para quem quer se deslocar na comunidade, uma alternativa é a jangadinha de madeira. Geralmente, são as crianças que se apoderam do controle desse meio de transporte. Realizar o tráfego, para elas, é uma opção de diversão. Outra recreação é a Praça Josenildo Paes Barreto, que foi construída em 1998 e está localizada na Rua João Elísio Ramos. 

Andando mais um pouco, chegamos até a Ilha do Zeca, inicialmente conhecida como Ilha de Popolônia. Trata-se de um importante espaço de lazer da comunidade Caranguejo Tabaiares e de outras localidades circunvizinhas. Religiosamente, aos domingos, acontece um campeonato de futebol com os quatro times da comunidade. Em dias de semana, as crianças utilizam a área para brincar e contemplar o verde da última Ilha do Recife que ainda não possui construções. Na região, os jovens contam com o projeto AdoleScER, organização da sociedade civil. Com atividades educativas e de formação humana, ela contribui na prevenção e redução da pobreza, violência, drogas, infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), HIV/Aids e gravidez na adolescência. A metodologia usada é a “educação entre pares” ou “de igual para igual”, o que promove o protagonismo juvenil e favorece um enorme efeito multiplicador. 

Com a nossa peregrinação quase chegando ao fim, fomos até o nosso ponto de partida: a Biblioteca Comunitária Caranguejo Tabaiares. “O espaço desenvolve atividades de leitura e contação de história com o objetivo de incentivar os usuários a desenvolver o gosto pela leitura e, a partir daí, construir uma comunidade de novos cidadãos e leitores. A equipe é composta por jovens que acreditam na educação como fonte de conhecimento social”, fala Mayara. A Biblioteca é um foco de resistência cultural que incentiva a leitura de crianças de baixa renda. Quase sete mil livros estão disponíveis para 60 crianças que passam por lá todos os dias. 

A Biblioteca Comunitária Caranguejo Tabaiares foi criada no dia 11 de outubro de 2005. A iniciativa partiu de Cleonice da Silva, Reginaldo Pereira e outros moradores. Na época, eram apenas 800 livros doados pela Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco (FCAP), pela Associação Cultura Planeta, além de outras organizações como ETAPAS, Centro Josué de Castro, FASE e a Escola Maria Goretti. “Como eu nasci e me criei aqui, sempre percebi esse interesse da comunidade pela cultura. Na biblioteca, desenvolvemos o prazer de ler e de apoiar as pesquisas escolares dos estudantes”, esclarece a nossa guia. A Biblioteca funciona diariamente nos turnos da manhã (8h30 às 11h30), tarde (14h às 17h) e noite (19h às 21h). 

Mesmo diante de tantas conquistas, a Biblioteca Comunitária e o Clube dos Idosos almejam mais: a construção da nova sede, que triplicará o número de atendimento na comunidade. Para que o sonho se realize, faz-se necessário a ajuda por meio de parceiros. Quem quiser colaborar, pode ligar para o telefone 3077-2535 ou 3446-3425. E é nesse clima solidário que nos despedimos de mais um bairro do Recife. Então, o nosso até logo, Ilha do Retiro.

Texto e fotos Gianfrancesco Mello 

Nenhum comentário:

Postar um comentário