terça-feira, 25 de outubro de 2011

Oficinas de intercâmbio

 Introdução

Esta Oficina de intercâmbio foi criada no contexto da X Semana do Conto de História da BCCT, realizada de 19 a 22 de julho de 2011, no Centro Público de Economia Popular e Solidária Maria Luzinete da Costa.
O tema da semana foi Leitura atravessando fronteiras em homenagem ao intercâmbio cultural que se mantém entre a atividade Bibliotèque du rue (Atelier du 14), de Nantes e a Biblioteca Comunitária Caranguejo Tabaiares.
O Atelier du 14  é uma entidade parceira e amiga da BCCT. Seus sócios, que inclui artistas e educadores, moradores de Nantes, realizam esta ação de leitura na rua, com crianças que brincam nos parques,  há alguns anos, no bairro de Malakoff.
Os artistas / educadores levam  livros de histórias e materiais de desenho e pintura, abordam as crianças para  ouvir histórias, contar casos, desenhar, falar dos gostos, dos brinquedos preferidos  e outras informações importantes relacionadas às suas histórias de vida. A maioria das crianças do bairro de Malakoff são filhas de imigrantes, provenientes de países africanos, asiáticos e latino-americanos.
Além da ação Bibliothéque du rue, o Atelier du 14 também apóia o Maracatu Macaíba e as duas atividades são resultado de um acordo de cooperação entre as cidades de Recife e Nantes, que começou a partir de uma ação institucional entre as prefeituras das duas cidades no ano de 2005. A amizade se consolidou e esses grupos  mantém o  contato, trocando correspondência, leitura de livros (em português e francês), comunicando-se através de vídeo-conferência e produzindo textos e outros registros previamente acertados.

Julho de 2009: uma visita muito importante

 Várias comitivas já viajaram de Recife para Nantes e vice-versa,  por causa da agenda do acordo de cooperação entre as duas cidades.  Poetas, escritores, artistas plásticos, viajaram pra lá, incluindo Reginaldo, coordenador da BCCT e Elisson do Maracatu Bela Arte, da comunidade Caranguejo Tabaiares.

O  livro Un regard transatlantique ( Um olhar transatlantico), publicado pela Fundação de Cultura Cidade do Recife, com poesias traduzidas nas duas línguas, de autores daqui e de lá e a criação do Maracatu Macaíba, no bairro de Malakoff, são resultados concretos desse processo de intercâmbio. Nantes é cortada por rios como Recife e os mapas das duas cidades são parecidos.

Everardo Norões, um dos poetas que visitou Nantes e tem poemas escritos nesse livro, foi hóspede de Jeanne Vilbert, (coordenadora do Atelier du 14) durante o tempo que permaneceu visitando aquela cidade. Veja trecho do poema Sexta-Feira, 8 (Vendredi 8) publicado no livro:


De novo
a sexta-feira desprezou
a lucidez da véspera,
aboliu o aconchego
dos remorsos perdidos.

À nouveau
le vendredi a méprisé
la lucidité de la veille,
a aboli le confort
das remords perdus.

E teve a oportunidade de recebê-la aqui, no mês de julho de 2009, quando  passou duas semanas no Recife, especialmente acompanhando a Semana do Conto de Histórias da BCCT.

Jeanne Vilbert trouxe na sua bagagem cartas, desenhos, e um livro enorme produzido pelas  crianças de Malakoff para as crianças de Caranguejo Tabaiares. Na bagagem vieram também várias fichas com cantigas de roda, em francês,  traduzidas para o português.

Durante quinze dias, Jeanne manteve encontros de uma hora com as crianças de Caranguejo Tabaiares, para ensinar a cantar cantigas rodas em francês. Ao mesmo tempo, coletou junto às crianças daqui cantigas de roda em português, escreveu nas fichas e traduziu para o francês. A cantiga de lá que as crianças mais gostaram de cantar foi Frère Jacques:
Frère Jacques

Frère Jacques
Frère Jacques
Dormez-vous?
Dormez-vous?
Sonnez les matines,
Sonnez les matines.
Ding, ding, dong.
Ding, ding, dong.


E a cantiga daqui que Jeanne mais gostou de cantar foi:

O trem maluco
quando sai de Pernambuco,
vai fazendo vuco vuco 
até chegar no Ceará...

Ela tem uma voz muito bonita e ensinava as crianças a cantar, fazendo preliminarmente exercícios de aquecimento de voz e outras técnicas de canto coral. Ao chegar, ela cumprimentava as crianças:
- Bonjour.
Por causa disso, as crianças começaram a chamá-la de Bonjour.
Bonjour deixou saudades ao partir e também deixou de presente vários  livros de literatura infantil e um CD com mais de 30 canções de ninar.

De volta a Nantes, ela sempre envia mensagens e desenhos produzidos pelas crianças, de forma que nunca dá tempo de lermos e processarmos tantas informações, até porque sabemos ler e falar francês só um pouquinho.
 Foi aí que criamos essa oficina de intercâmbio, com o objetivo de ler, processar as informações enviadas pelas crianças de lá  mediar a leitura dessas informações com as crianças daqui. Com isso, pretendemos alimentar o vinculo entre as duas atividades e manter acesso o interesse das crianças pelas diferentes culturas, buscando sempre atravessar fronteiras através da leitura.

A Oficina de intercâmbio

Ela foi realizada com um grupo de aproximadamente 20 crianças, durante a X Semana do Conto de Histórias e aconteceu do seguinte modo:

·        Rodada de apresentação

As crianças receberam metade de folha de papel ofício colorida onde escreveram seus nomes com letras grandes e legíveis,  acrescentando desenho de brincadeira ou brinquedo preferido.

Durante o processo, conversamos sobre as brincadeiras e fizemos exercícios rítmicos, com palma, fazendo combinação com os nomes: dois a dois; três a três.

Rememorei com elas  algumas  parlendas, que brincava quando criança:  Bão balalão e Meu compadre Mané Fernando.





·        Ciranda daqui e de lá
Cantei para eles a música Minha Ciranda (Capiba) e contei um pouco da história da ciranda: falei da relação com a cidade do Recife, que se originou de uma vila de pescadores. Dançamos para ver como a ciranda imita o movimento do mar.

Distribui o texto da ciranda e fui lendo, verso por verso, junto com eles. Depois, deixei que copiassem livremente os versos ou estrofes que os interessassem.



Recolhi e apresentei outra canção, em francês, tirada do CD que Jeanne deu de presente para Livia. O nome da música é Le p'tit machand de gallettes.

Eu mostrei o disco, contei sobre a procedencia dele, perguntei se alguém se lembrava da Jeanne, alguns se lembravam e falaram da atividade com ela.

Então eu cantei e pedi que prestassem atenção e em seguida, pedi que cantassem junto comigo, repetindo,  da forma que entendessem. Eles riram muito, mas cantaram, se aproximando do que eu estava dizendo.

Novamente retornamos ao CD observando atentamente a página cuja ilustração se referia à letra da múscia, com o garoto (vendedor de broa) que partia todas as manhãs de uma espécie de sítio, na área rural, para vender “gallettes” em Nantes ou em Paris, retornando a noite, quando os bebês já estavam dormindo. 

Falei que a música continha uma pequena história e resumi  a história  para eles em português, depois fui lendo, frase por frase em francês. Fiz a articulação com o tema da X Semana do Conto de Histórias.

Apresentando as crianças de lá
·        Peguei  três  sacolas de compra onde tinha colado os nomes de três crianças de Malakoffi (Inês, Maamar, Aminata), destacando suas idades.





 Expliquei que cada sacola representava uma das crianças, que moravam em Nantes e mandaram mensagens pra elas, as crianças daqui. Falei que as mensagens estavam dentro das sacolas e eu escrevei na forma de balões de quadrinhos, algumas mensagens.
Falei que muitas outras crianças escreveram mensagens em francês, numa espécie de caderno, feito com fichas de papel colorido, do jeito que os de cá fizeram seus crachás. Mostrei o caderno pra elas e falei que como eram muitas crianças e muitas mensagens, eu selecionei algumas falas, das mensagens daquelas três.
Então fui tirando os balões e lendo as frases em francês e vendo se elas entendiam alguma coisa. As frases eram assim:

-Je  m'apelle Maamar. J' ai 7 ans.
-Je m'apelle Ines. J'ai 5 ans. Je mange gateau du chocolat au lait.
-Es ce que vous avez a bibliotheque du rue on cette quartier?

Depois que lemos e comentamos as mensagens, entreguei pra eles os cartões onde escreveram os nomes com as idades e o brinquedo preferido e pedi que escrevessem atrás mensagens para as crianças de Nantes. Eles escreveram o seguinte:

 No final, coloquei o CD, pedi que ouvissem e cantassem.  Depois convidei para brincar de roda,  criando movimentos para cada estrofe da música. Foi muito divertido.
Iniciamos assim com a Ciranda de Capiba, símbolo cultural de Recife, PE e terminamos com “Le p”tit marchand de gallettes”, como símbolo cultural da França, que se referia especificamente à cidade de Nantes.


Esta oficina foi conduzida por Carminha Bandeira, assessora pedagogica da BCCT. E foi postada por Mayara Silva, responsável pelo blog.
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