sábado, 29 de agosto de 2009

Por um mundo de livros

Em uma das paredes da Biblioteca Popular do Coque repousa a seguinte inscrição: "Não somos um número. Não sou condenado a ser quem você quer/ mentir pra mim mesmo/ me deixar trair".

No Coque, jovens leitores aprendem também a confeccionar livros. Foto: Júlio Jacobina/DP/D.A Press

Palavras que podem ser consideradas o grito de independência não só dos frequentadores do local, como os de projetos semelhantes, geralmente concretizados por iniciativa dos próprios moradores. Amanhã, representantes destas bibliotecas realizam uma série de atividades dentro do seminário Bibliotecas: liberdade, igualdade, fraternidade, eixo principal do 7º Festival Recifense de Literatura: A letra e a voz.

A programação começa às 15h, na comunidade de Caranguejo Tabaiares, Ilha do Retiro, e inclui oficinas, palestras e apresentação da rede formada por dez bibliotecas comunitárias da Região Metropolitana do Recife. "Estamos montando um mapa e queremos identificar novos espaços", diz Gabriel de Santana, coordenador da rede e da Biblioteca Multicultural Nascedouro, em Peixinhos. "Quanto mais integrantes, maior nossa visibilidade e força para participar da gestão das políticas de leitura".

O objetivo maior, no entanto, é propor, em aliança com o Fórum Pernambucano de Defesa do Livro e da Leitura, a criação de uma lei municipal que regule e garanta proteção a atividades do gênero, que será apresentada em sua versão definitiva na próxima quinta-feira, às 8h, no auditório do Senai. Entre os convidados estão as secretarias municipais e estaduais de educação e José Castilho, secretário-executivo do Plano Nacional do Livro e Leitura - PNLL. A última oportunidade de propor alterações será na reunião de amanhã.



Com acervo de 4,5 mil títulos, jovens da comunidade Caranguejo Tabaiares, na Ilha do Retiro, sofrem com a falta de espaço. Foto: Ricardo Fernandes/DP/D.A Press

O ponto de encontro será o Centro Social de Caranguejo-Tabaiares, perto da sede do Sebrae. De lá, o público pode participar de oficinas de contação de histórias, catalogação e confecção de livros. Às 16h30, no auditório do Sebrae, haverá a apresentação da rede e seu mapa de sustentabilidade social, cultural e econômica. "Hoje as bibliotecas vinculadas à rede mobilizam um acervo de 15 mil livros", diz Gabriel. "Queremos fazer um cruzamento de nossas atividades com os objetivos do PNLL e saber até que ponto deixamos o campo da caridade para assumir o papel de gestores coletivos dessas políticas públicas".

O encontro também será uma oportunidade para trocar informações e soluções para dificuldades gerais e específicas de cada comunidade. O primeiro foi em 2007 e reuniu quatro bibliotecas. "Visualizamos possibilidades que hoje estão acontecendo", diz Izamar Martins, que coordena a Biblioteca do Cepoma, em Brasília Teimosa. "É um espaço aconchegante, mas com dificuldade de acesso por conta das escadas. Pessoas com deficiência física não podem chegar lá. Por isso, adotamos a mala de leitura, feita de papelão reciclado. As crianças podem escolher de 15 a 20 livros e levar para casa por uma a duas semanas. Através dessas leituras, elas conhecem novos lugares, vidas, realidades e olhares".

Com um acervo de 4,5 mil livros e frequência de cerca de 40 crianças/dia, a Biblioteca Comunitária Caranguejo Tabaiares também tem seus problemas - espaço é o principal. "Precisamos de parceiros, engenheiros ou construtores, para transferir a biblioteca para o primeiro andar da sede do grupo de idosos", diz a fundadora do projeto, Cleonice da Silva. "A relação institucional é importante, mas procuramos reforçar uma rede de amigos individuais, que possam fazer doações ou trabalhar conosco na formação e divulgação das atividades", diz o coordenador Reginaldo Pereira.



Em Brasília Teimosa, crianças levam livros para casa e devolvem em duas semanas. Foto: Ricardo Fernandes/DP/D.A Press

No Coque, mais um local estigmatizado pela violência, crianças aprendem a confeccionar livros que contam a própria história. "Descobri que mesmo os que vão para a escola não conseguem o fundamental, que é aprender a ler. Então começamos a trabalhar alfabetização, que para mim é o primeiro passo para qualquer conquista", diz Maria Betânia do Nascimento, que conseguiu montar um acervo de 3,5 mil livros, mas depende da doação de material didático (papel, cola, lápis e borracha) para continuar seu trabalho.

O voluntário francês Benoit Pirroneau, que acompanha a biblioteca de Caranguejo Tabaiares e seu processo de organização em rede, observa no local os princípios da economia solidária. "De que outra maneira ela consegue se sustentar, se não tem nada para vender?", pergunta. Para ele, a leitura crítica do PNLL e a possibilidade da rede participar da elaboração de políticas públicas municipais é um movimento que precisa ser melhor valorizado. "Ele fecha o ciclo a partir dos atores locais, que se entendem mais como protagonistas do que beneficiários. Na prática, trata-se de municipalizar o que já existe como iniciativa da sociedade civil".

Serviço
Biblioteca Popular do Coque: 8830-3642
Biblioteca Multicultural Nascedouro (Peixinhos): 3244-3325
Biblioteca Comunitária Caranguejo Tabaiares: 3077-2535
Biblioteca do CEPOMA (Brasília Teimosa): 3326-6509
Livroteca Brincantes do Pina: 3465-1679
Solar do Ler - Centro Luiz Freire (Olinda): 3301-5241
Biblioteca Peró (Jaboatão dos Guararapes) - 2122-2249

Reportagem publicada no jornal Diário de Pernambuco e no site do mesmo jornal. É só clicar no titulo do post ou no link abaixo e você será direcionado para a página em que foi publicada essa reportagem.

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